O Leviatã

A história de Jó é um drama universal, conhecida no Oriente Médio por volta de 2000 a.C. Provavelmente, era contada em diversos locais e abordava problemas universais como o mal, o sofrimento, a dor, o relacionamento do homem com Deus, a riqueza e a pobreza. Segundo o relato, Jó vivia na terra de Uz, um local de localização incerta. Ele era casado com uma mulher árabe, cujo nome não é mencionado. Era um homem rico, possuindo 7 mil ovelhas, 3 mil camelos, 500 juntas de bois e 500 jumentas. Tinha sete filhos e três filhas, e era senhor de muitos servos. No texto bíblico, é dito que “este homem era maior do que todos os do oriente” e “um homem íntegro, reto e temente a Deus”, que “se desviava do mal”.
A obra não foi produzida em um único momento histórico; é uma colcha de retalhos. Isso sugere que o texto foi ressignificado ao longo do tempo, sendo um produto de múltiplos períodos. A comunidade científica quase unanimemente afirma que grande parte do que chamamos de Antigo Testamento foi produzida no período pós-exílio. Acredita-se que, devido à grande miséria do povo que retornou à terra natal, a comunidade escriba se apoderou do texto, não só remodelando-o aos critérios da religião judaica, mas também usando-o como um veículo de fé e esperança para um novo começo.
Nesse livro, temos a narração enfática de criaturas como o Leviatã, Behemoth (Jó 40:15-24), e Rahab (Jó 26:12). Entre os especialistas, é consenso que se trata de conteúdo mítico, fábulas que pretendem transmitir mensagens. O Leviatã é um peixe feroz mencionado na Tanakh, ou no Antigo Testamento. Dependendo do contexto, pode ter interpretações mitológicas ou simbólicas. Geralmente, é descrito como tendo grandes proporções, e era comum no imaginário dos navegantes europeus da Idade Média e dos tempos bíblicos. No Antigo Testamento, a imagem do Leviatã é retratada pela primeira vez no Livro de Jó, capítulo 41, além de Isaías, capítulo 27, como uma serpente marinha. Durante a Idade Média, a Igreja Católica considerava-o o demônio representante do quinto pecado.
O Leviatã é descrito como uma besta feroz e indomável, coberta por uma armadura impenetrável e com uma boca cheia de dentes mortais. Ele respira fogo e fumaça e agita o mar. Em Jó 41:33-34 diz: “Na terra não há coisa que se lhe possa comparar, pois foi feito para estar sem pavor. Ele vê tudo que é alto; é rei sobre todos os filhos da soberba”.
A imponência do Leviatã inspirou o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) a associar a figura do Estado a ele. Para Hobbes (2009), ninguém é mais poderoso que o Estado, e por isso, todos devem ceder parte de seu poder para o bem coletivo, com o Estado sendo responsável pelo controle e punição. Hobbes (2009, p.21) define o Estado como “[…] um homem artificial, bem mais alto e robusto que o natural, e que foi instituído para sua proteção e defesa…”. Esse homem artificial, segundo Hobbes, é o grande governante do mundo, responsável pela elaboração da conduta moral e ética da sociedade. Nele reside a soberania para garantir a lei e a ordem.
O grande problema desse Estado é a subjetividade que ele carrega do homem a quem está subordinado. O Estado é um homem artificial, mas é o homem carnal que o define e governa. Talvez, essa seja a razão pela qual esse Estado nunca tenha dado certo em parte.
Agora, imagine um Estado sujeito à subjetividade da religião, um Estado idealizado com o poder do sagrado e imposto a todos. Isso se refere a um Estado Teocrático, onde as leis em vigor foram inspiradas por um deus ou vários deuses. Como os deuses não podem governar diretamente, eles utilizam seus representantes na Terra, como sacerdotes e reis, para dirigir o povo. Teocracia (do grego Teo: Deus + cracia: poder) é o sistema de governo em que as ações políticas, jurídicas e policiais são submetidas às normas de algumas religiões.
No antigo Israel, nunca existiu uma teocracia como forma de constituição. O reinado de Iahweh é uma representação ideal; somente a partir do exílio foram feitas tentativas de realizá-la por meios externos, como um governo do Sagrado. Esse governo teocrático era fundamental para impor leis que não apenas garantiam a ordem e os direitos da comunidade em geral, mas também exaltavam princípios e valores religiosos.
Hoje, a maioria dos países adotaram um regime de governo democrático que, de certa forma, se separa da religião. Isso significa que muitos valores religiosos não são mais aceitos pelo Estado, que agora detém o poder de estabelecer regras morais, éticas, civis e criminais. Enquanto a religião detinha esse poder, podia impor tudo o que queria, afirmando ser a vontade de Deus. Agora o cenário é diferente, e a “igreja” enfrenta o desafio de cultuar sua tradição sem a autorização do Estado. Para sobreviver a isso, a religião precisou sofrer mudanças para se readequar.
Uma nova aliança poderia ser uma boa solução. A construção de uma narrativa através da pessoa de Cristo foi criada para que houvesse uma ruptura legítima em relação às leis da Torá, que eram questionáveis para algumas mentes. Segundo alguns críticos, as leis da Torá foram estabelecidas por Moisés para iniciar o processo civilizatório da nação israelita. Ele criou leis severas e rígidas para disciplinar e manter pelo temor um povo turbulento. Para dar autoridade às suas leis, ele as atribuiu a uma origem divina, como fizeram todos os legisladores de povos primitivos; a autoridade do homem se apoiava sobre a autoridade de Deus. Assim, conforme o ponto de vista crítico, as leis mosaicas tinham um caráter essencialmente transitório e local, embora possuam algumas características universais.
Devido a questões políticas, principalmente na Europa, a religião cristã se espalhou pelo Ocidente. No entanto, não era possível legitimar e impor todas as regras locais da Palestina em todo o território de influência. Isso gera confusão até hoje, pois cada movimento ramificado do cristianismo interpreta e julga as leis de forma diferente. Embora o discurso seja de uma nova aliança, quase todos se servem de leis mosaicas conforme lhes convém. Surge a pergunta: Quais leis são válidas e quais não são mais? É possível impor, em plena era contemporânea, valores tão arcaicos? Fácil de responder, difícil de praticar, já que muitas dessas leis atendem perfeitamente aos interesses dos senhores da religião atualmente. Assim, cada um elabora seu próprio cardápio e exclui aquelas leis que, embora atrativas, o grande Leviatã, o Estado, não permite mais. Nessa receita, tudo que serve como pano de fundo para legitimar e divinizar o plano de poder do líder é incorporado com uma base sistemática da teologia. Por isso, temos tantos segmentos diferentes dentro do movimento cristão.
Em Tiago 2:10, diz: “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos”. O texto não iguala todos os pecados, pois a própria lei faz distinção com escala de punição. O texto se refere àqueles que, de maneira tendenciosa, utilizam partes da lei para obter vantagens para si e seus próximos.
Em Deuteronômio 22:22, diz: “Quando um homem for achado deitado com mulher que tenha marido, então ambos morrerão, o homem que se deitou com a mulher, e a mulher; assim tirarás o mal de Israel”. Essa prática é abominável pelo Estado e, por isso, precisou ser abandonada. Outro exemplo é em Deuteronômio 22:20-21: “Porém se isto for verdadeiro, isto é, que a virgindade não se achou na moça. Então levarão a moça à porta da casa de seu pai, e os homens da sua cidade a apedrejarão, até que morra; pois fez loucura em Israel, prostituindo-se na casa de seu pai; assim tirarás o mal do meio de ti”. Outro exemplo claro de leis que eram normais na época em que foram idealizadas, porém o grande Leviatã não aceita.
Existem leis que o Estado, na maioria dos casos, não se manifestou, abrindo precedentes para muitos segmentos da religião cristã. Por exemplo: “Lembra-te do dia do sábado, para o santificar” (Êxodo 20:8). Essa lei não sofre restrição na maioria dos países que aceitam a religião cristã, então cada instituição fica à mercê de sua própria interpretação. A maioria diz que, por vivermos em uma nova aliança, guardar o sábado não se faz necessário. Contudo, a lei referente ao sábado está presente no 4° mandamento, que geralmente é legitimado como sendo parte das dez leis idealizadas por Deus.
Agora, surge uma polêmica importante: Como justificar a não observância do sábado enquanto se legitima a cobrança de dízimos, que nem sequer está presente nos Dez Mandamentos? Como o Leviatã — o Estado, segundo Hobbes — não proíbe a cobrança do dízimo, e essa prática interessa bastante aos falsos pastores, ela nunca é abandonada. Apesar de ser parte da lei, é legitimada por quase todas as vertentes do cristianismo.
Quero que reflita sobre o Estado “todo-poderoso” de proibir qualquer prática que ele considere prejudicial ao homem. Quando isso ocorre, o poder religioso se reorganiza com a narrativa de que tal prática pertence à antiga aliança. Essa atitude resolve dois problemas: a austeridade por parte do Estado e a justificativa ideal para acalmar os fiéis, que geralmente estão dispostos a morrer por seus princípios. Isso garante a sobrevivência do movimento religioso, o consolo dos fiéis, e, principalmente, sua obediência. Você pode adquirir nosso livro sobre dízimo e entender melhor essa história.
Vivemos em tempos de modernidade e globalização, onde tudo chega muito rapidamente. Se tudo isso acontecesse agora, seria muito mais difícil de se adaptar. No entanto, muito do que menciono aconteceu séculos atrás, em uma época em que a informação não era nada democrática. Por isso, foi muito mais fácil de impor sem questionamentos. Hoje, temos a sensação de que tudo sempre foi do mesmo jeito. Mas isso é uma ilusão; tudo sofre mudanças desde sempre.
Agora imagine as inúmeras práticas que os falsos pastores não estão dispostos a abandonar? O dízimo por exemplo! Para legitimar essa prática, a teologia sistemática é usada com muita habilidade, juntamente com o discurso de que são necessários donativos para que a mensagem seja espalhada. Surge a pergunta: Então, por que outras religiões que não têm essa prática conseguiram se expandir? Thomas Hobbes estava certo: nunca se tratou do que é certo ou errado, mas sim do que o Leviatã permite e, principalmente, do que interessa aos falsos pastores.
Nesse artigo quero apenas te provocar a meditar sobre toda a construção que a religião cristã tem passado ao longo do tempo. Primeiro a religião cristã protestante vira tradicional, depois pentecostal e agora neopentecostal. Tudo isso para se adequar reformas que a sociedade impõe. Não se trata do que é certo ou errado e sim, sobre o que o estado permite.
Tudo se adequa para que os interesses dos falsos pastores sejam enquadrados no discurso de “nova aliança”. Nessa nova aliança a guarda do sábado pode até sair de cena, mas a cobrança do dízimo, nunca. Estou dando apenas um exemplo de inúmeros.
É muito importante que você aprenda a enxergar a religião por uma nova perspectiva. Acreditar que tudo o que sua religião cultua é mandamento de Deus é um erro que você precisa parar de cometer. Falsos pastores idealizam suas próprias doutrinas e ensinam o povo a segui-las cegamente, alimentando a ilusão de que receberam uma revelação divina. Nesse contexto, adaptam seus ensinos aos seus objetivos escusos e, principalmente, ao que o Leviatã permite. Isso, sem dúvida, gera confusão e escravidão nos corações aflitos.
A maioria das pessoas que buscou a religião cristã estava aflita, buscando resolver suas demandas pessoais, e, no fim, acabou se tornando vítima de falsos mestres.
Hoje, a supremacia do poder do Estado é nítida, e os falsos mestres sabem que não podem confrontar o Leviatã. Por isso, criam suas doutrinas com a necessária adaptação a essa realidade. É exatamente sob esse prisma que conduzem a análise dos 613 artigos da lei mosaica. Eles utilizam a lei conforme seus interesses: o que é importante para seus planos de poder é incorporado; o que não é, é descartado. Assim, os falsos mestres construíram impérios faraônicos, onde seus fiéis serviram apenas como engrenagens de poder. Quando deixaram de ser úteis, foram abandonados à própria sorte.
Termino este post deixando claro que minha motivação é ajudá-lo a despertar desse abuso religioso em que você está preso. Tenha fé e coragem para romper com esses falsos ensinamentos. Deus quer que você fique bem – muito bem!
Can you be more specific about the content of your article? After reading it, I still have some doubts. Hope you can help me.
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