Como falsos pastores usam os gatilhos mentais

O que são os gatilhos mentais?
Os gatilhos mentais são agentes externos que provocam reações nas pessoas, tirando-as de sua zona de conforto. Em outras palavras, são estímulos que agem diretamente no cérebro. Porém, não se trata de hipnose ou algo do tipo, pois a base dos gatilhos mentais está na psicologia.
Uma coisa é certa: nosso cérebro é repleto de mistérios, mas a ciência já desvendou alguns deles. Sabemos, por exemplo, que nossa mente toma decisões com base em contextos sociais e emocionais, enquanto a racionalidade surge depois, na tentativa de justificar a ação. Assim, um gatilho mental, quando ativado, pode provocar sentimentos favoráveis ou desfavoráveis.
Existem diversos gatilhos mentais. Mais adiante, você conhecerá alguns deles e descobrirá como falsos pastores os utilizam para enganar suas ovelhas. Por ora, vale saber que os gatilhos funcionam como estímulos que eliciam emoções e reações. É claro que todo esse conhecimento deveria ser usado para o bem, ajudando as pessoas a tomar atitudes que lhes sejam benéficas. Infelizmente, não foi isso que vivenciei no universo neopentecostal, do qual fiz parte por vinte anos.
Não estou generalizando, mas tenho plena convicção de que, no universo neopentecostal, tais gatilhos são frequentemente usados de forma dolosa, para que seus falsos pastores alcancem objetivos nada eclesiásticos.
Você já deve ter ouvido que o ser humano usa apenas 10% de sua capacidade cerebral. Claro que isso não é verdade, primeiro porque é impossível calcular essa porcentagem. O que posso afirmar é que o ser humano geralmente toma decisões baseadas nas emoções, utilizando a razão posteriormente para justificar essas decisões. Isso significa que, se o falso pastor souber explorar essas emoções, a pessoa se torna uma presa fácil.
Os gatilhos mentais podem ser divididos em três partes principais: Ethos, Pathos e Logos. Ethos refere-se ao conjunto de costumes e hábitos fundamentais no comportamento e na cultura. Pathos é a qualidade de escrita, fala, música ou representação artística que estimula sentimentos de piedade ou tristeza. Logos, por sua vez, representa a razão ou o princípio da inteligibilidade. Note que o Ethos está ligado às emoções coletivas, ou seja, ao comportamento humano dentro de um determinado ambiente. Pathos é mais emocional e subjetivo. E, finalmente, Logos é a razão, a consciência, o “porquê” da ação.
Agora você já imaginou todo esse conhecimento sendo usado dentro do contexto religioso? Só a religião por si só, já tem um poder assustador sobre o comportamento humano. Imagine todo esse conhecimento de comportamento humano sendo associado ao sagrado?
Em nosso livro gatilhos mentais, listamos mais de 30 gatilhos que são usados por falsos pastores para enganar a membresia. Temos um capítulo especial chamado A galinha dos ovos de ouro, onde falamos dos 5 principais gatilhos que são: Reciprocidade, Afeição, Compromisso e coerência, Medo e Inimigo comum, enfim, você não irá encontrar nada igual. Adquira seu exemplar e se delicie de tanto conhecimento.
Irei te dar nesse artigo o exemplo de um gatilho muito usado e que é muito fácil da membresia absorver.
GATILHO MENTAL DE JUSTIFICATIVA
Nós adoramos justificativas, e quando elas acompanham um pedido, geralmente o pedido é atendido. No meio religioso, você já deve ter visto falsos pastores dizendo que poderiam estar viajando de férias ou vivendo suas vidas de outra forma, mas escolheram ganhar almas para Cristo. Esta afirmação, na verdade, é uma justificativa “louvável” do ponto de vista dos seguidores, visando desarmá-los e vender a ideia oferecida. Já pensou como seria difícil simplesmente pedir ou mandar? Em vez de uma abordagem rude e evasiva, é muito mais eficaz justificar a “grandeza” dessa atitude: “Eu poderia estar aproveitando a vida, mas estou trabalhando para Jesus. E você deveria fazer o mesmo”, diz o falso líder.
Tal abordagem sempre é usada com o “porquê”: “Eu estou aqui trabalhando para Jesus porque amo as ovelhas. Eu amo as pessoas.” A palavra “porquê”, usada como justificativa, tem um poder sensacional. Essa linguagem visa levar o fiel a acreditar que seu “líder” está realmente sacrificando-se por todos que estão ali.
Infelizmente, o fiel sempre será abordado dessa forma, pois tudo o que se faz dentro da instituição recebe uma justificativa divina: “Se eles querem construir uma catedral, a justificativa é que será para a glória de Deus. Se querem vender ingressos de um determinado filme no cinema, é para ganhar almas. Se querem que a venda de um determinado livro seja um sucesso, é para glorificar a Deus. Se querem comprar uma empresa, é para ganhar almas.” Grande parte disso tudo não tem nenhuma relevância direta com o trabalho eclesiástico; mesmo assim, o fiel não percebe e acaba financiando tudo o que a instituição projeta, porque a justificativa é que irão ganhar almas, ou que Deus irá retribuir a todos que se dispuserem a financiar, doar dinheiro, casa ou automóvel.
Nessa manipulação, os líderes neopentecostais estão milionários, e até bilionários. Começaram com uma igrejinha no porão, e hoje têm empresas de todos os nichos possíveis. Aqui no Brasil, um exemplo clássico é o de Edir Macedo, que mobilizou seus seguidores a doar altas quantias financeiras com a justificativa de que a compra da TV Record serviria para o propósito de Deus de ganhar almas. O resultado? É só ligar na referida emissora durante o dia e se deparar com programas que além de não serem eclesiásticos, ainda profanam os valores cristãos. Um exemplo é o programa “A Fazenda”.
O fiel acaba sendo enganado por justificativas “divinas”, mas não se move para pedir prestação de contas depois. Quando acontecem campanhas de arrecadação, o falso pastor costuma dizer que caso a pessoa não esteja disposta a sacrificar de verdade, ou seja, colocar todo seu dinheiro no “altar”, nem deve participar. Tal afirmação é seguida de uma ótima justificativa: “Se eu realmente estivesse interessado no seu dinheiro, nem diria nada. Estou avisando para mostrar que não estou interessado nisso, e sim que você seja abençoado.” Isso funciona muito bem, pois o fiel acaba acreditando que o falso pastor deseja seu bem.
Durante as eleições, a “justificativa divina” também é usada para manipular os fiéis a elegerem os candidatos da instituição. O tal líder vai justificar que caso seus candidatos não consigam se eleger, o Reino de Deus estará em risco, que a “igreja” poderá até vir a fechar as portas. Essa justificativa deixa o fiel tão apavorado que ele não só vota no candidato do pastor, como ainda se empenha muito para conseguir mais votos (faz campanha eleitoral de graça).
Você consegue entender agora como esse conhecimento tem escravizado gerações? Enfim, estude mais esse assunto e aprenda a se proteger, não se esqueça de deixa nos comentários sugestões sobre outros artigos.